Capa Por que a positividade pode estar prejudicando a sua empresa?

Por que a positividade pode estar prejudicando a sua empresa?

A positividade exagerada é a necessidade obsessiva de suavizar e atenuar tudo o que não seja abertamente positivo, jubilosamente recompensador, ruidosamente alegre ou absolutamente elogioso para que ninguém, em algum lugar, sinta-se de alguma forma ofendido. Isso leva a suavizar questões competitivas reais, sufocando debates e silenciando dissidentes. E, no entanto, a pesquisa sugere que os otimistas eternos também não são necessariamente os melhores líderes e que a positividade exagerada por estar, na verdade, prejudicando a sua empresa. 

A positividade exagerada é, de primordialmente, a ideia perpétua de que é preciso ser positivo se manifesta em todas as áreas de uma corporação desde as avaliações dos gerentes sobre a performance da empresa a não comentar sobre o café morno servido nas reuniões. A positividade excessiva se tornou tão potente que quando executivos não douram a pílula em seus pontos de vista ou enxergam pelo lado bom em cada tornado, o mundo dos negócios fica em choque. 

A noção de que você deve ver as coisas pelo lado bom em todas as situações está engrenhada no pensamento corporativo. Nesses discursos, predominam as mensagens de ação produtiva e as ideias de que todas as metas são alcançáveis, promovendo cansaço generalizado entre toda a equipe. Mas enxergar apenas o lado bom, por definição, obscurece a realidade, e sem enfrentar a realidade, essa positividade exagerada pode estar prejudicando a sua empresa.

Como perceber se minha empresa está sendo prejudicada pela positividade exagerada?

Você pode combater a positividade exagerada do seu próprio modo. Faça as perguntas a seguir a si mesmo. As respostas irão lhe dizer se sua empresa está livre ou possuída pelo positivismo:

1 – As más notícias chegam à empresa através de indicadores como, por exemplo: A automação dos serviços irá certamente reduzir a demanda pelos nossos serviços (baixa positividade). Ou as más notícias chegam por indicadores defasados como, por exemplo: A demanda pelos nossos serviços tem caído há alguns anos (média positividade). Ou, as más notícias nem chegam, por exemplo: Nos últimos meses uma pessoa contratou nossos serviços (alta positividade sem se dar conta do quanto os números caíram nem há quanto tempo). 

2 – A palavra “concorrente” aparece com frequência durante reuniões de estratégia, vendas, marketing ou finanças? O termo “nosso plano” vem à tona? Quanto mais alta a proporção de “concorrente” para “nosso plano”, mais baixa a positividade.

3 – Sua empresa faz perguntas em busca de não confirmação de que está no caminho certo? Por exemplo: O que está interferindo em atingir nossas metas? (Sinal de inoculação contra a positividade está sendo efetiva). Ou busca por confirmação? Por exemplo: Quão próximos estamos de alcançar nossas metas? (Risco de positividade).  

Quanto mais alta for a pontuação da sua empresa nas perguntas acima, menos suscetível ao otimismo exagerado. E isso é algo positivo. 

Efeitos prejudiciais da positividade exagerada para a sua empresa

Na psicoterapia em um programa de 12 passos, somos avisados de que até que admitamos que há um problema, nenhum progresso poderá ser feito. Conversas exageradamente positivas são um clássico sintoma de gerentes que vivem em negação sobre um problema. Mas negar um diálogo honesto causa atrofia do músculo da competição. Então o que fazer? 

Primeiro você precisa ser realista. E algumas vezes, a realidade em si não é muito agradável. Dourar a pílula não leva a um “ambiente melhor de trabalho”, e sim a um ambiente de alienação. 

Sophia Chou, uma pesquisadora de psicologia organizacional da Universidade Nacional de Taiwan, descreveu algo que chamou de “otimismo realista”. Diferentemente de otimistas que enxergam apenas o copo como meio cheio e infinitas possibilidades, e diferentemente dos pessimistas que só enxergam o copo como meio vazio e sem esperança, otimistas realistas misturam realismo (o que pode ter implicações negativas) e otimismo. 

Segundo pesquisa da pesquisadora, otimistas realistas possuem um olhar positivo com o senso de realidade dos pessimistas. No estudo, eles tiveram notas mais altas do que os outros grupos, pois perceberam que precisavam estudar mais para alcançar o sucesso acadêmico. E, diz Chou, eles não desistem frente aos desafios. Eles desenvolvem planos alternativos. 

Um outro efeito colateral importante

O filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han estudou os efeitos colaterais do positivismo exacerbado em seu livro “Sociedade do Cansaço”. No livro, ele fala como as pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados – tornando elas mesmas vigilantes e carrascas das suas ações. O texto é 2015, mas se trouxermos para os dias de hoje, em plena pandemia, a afirmação de que trabalha-se cada vez, ganhando-se cada vez menos não poderia ser mais atual. Han fala ainda sobre a importância do surgimento de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout. Em 2013, uma pesquisa do IBOPE já revelava que 98% dos brasileiros já se sentiam cansados mental e fisicamente e que os jovens entre 20 e 29 anos eram os que representavam a maior fatia dos exaustos. 

Então qual a cura para a positividade exagerada? 

Com certeza a cura para a positividade exagerada não é uma boa dose de pessimismo. Na verdade, a cura é enfrentar a realidade, é a honestidade. Portanto o desejo de perceber e encarar a realidade é um pré-requisito para desenvolver sua habilidade de concorrer. 

Outra questão importantíssima é zelar pela saúde emocional de toda equipe. Um trabalhador feliz é 31% mais produtivo, três vezes mais criativo e vende 37% mais, de acordo com estudo da Universidade da Califórnia realizado entre 2018 e 2019. O estudo revelou ligações claras enter bem-estar e desempenho. 

Estudo da PwC (network de firmas independentes com mais de 250 mil profissionais) concluiu que profissionais dão cada vez mais importância ao bem-estar e valorizam ações dos empregadores que promovem qualidade de vida.